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Lutando por Direitos: a carreira de Raquel Gallinati

Raquel Gallinati, delegada de polícia. Diretora da Associação dos Delegados de Polícia do Brasil.

Lutando por Direitos: a carreira de Raquel Gallinati
Lutando por Direitos: a carreira de Raquel Gallinati (Foto: Reprodução)

Lutando por Direitos: a carreira de Raquel Gallinati

Delegada de Polícia conta como foi o início da sua jornada e quais desafios enfrentou em um ambiente predominantemente masculino.Muito mais que um sonho, a carreira policial é uma vocação para Raquel Gallinati. O percurso até se tornar Delegada da Polícia Civil de São Paulo foi construindo ao longo da sua vida. Desde a infância, Raquel sempre sentiu desconforto diante de situações injustas, como o bullying. Assim, o desejo profundo de combater a injustiça e de lutar pelos direitos daqueles que são vulneráveis foi despertando, o que a levou escolher trabalhar na polícia.

Hoje, Raqual Gallinati é Delegada de Polícia no Estado de São Paulo e Diretora da Associação dos Delegados de Polícia do Brasil (Adepol do Brasil). Raquel é formada em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (2000), é mestre em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2007) e pós-graduada em Ciências Penais pela Universidade Anhanguera - Uniderp (2011). Também, possui pós-graduação em Direito de Polícia Judiciária na Academia Nacional de Polícia (ANP da Polícia Federal) de Brasília (2020) e é pós-graduada em Processo Penal pela Escola Paulista da Magistratura. Fez história ao se tornar a primeira mulher a presidir o Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo. Foi eleita com quase 80% de aprovação para a gestão 2016/2019 e reeleita com 97% dos votos que validaram a gestão do triênio seguinte (2019/2022). 

O lugar da mulher na polícia
Raquel explica que o machismo presente na sociedade tem reflexos no ambiente policial, que ainda é predominantemente masculino. Atualmente, as mulheres são uma minoria nas instituições de segurança pública e ocupam poucas posições de liderança e tomada de decisão. “Trabalhamos diariamente para que essa realidade seja alterada, uma vez que as polícias, em sua maioria, foram concebidas, planejadas e formadas por homens. Buscamos trazer outras perspectivas que anteriormente não eram consideradas para o trabalho policial”, afirma. Para a Delegada, é necessário aumentar o engajamento feminino nas atividades policiais, sobretudo buscando ocupar posições de liderança dentro da estrutura da segurança pública. “Impor obstáculos ou perpetuar estereótipos que desencorajam as mulheres a ingressar na segurança pública, é silenciar metade da população.”

“A profissão não tem sexo, não tem gênero. Ela está ali para se exercer de acordo com a aptidão”, diz Raquel. Merece destaque que Raquel foi a única mulher a integrar a equipe de transição da pasta de Segurança Pública do Governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. “Acredito que a diversidade de vozes e perspectivas é fundamental para abordar de maneira abrangente os desafios e necessidades da sociedade, promovendo decisões mais inclusivas e equitativas.”

Luta contínua
As prioridades de Raquel enquanto Delegada e Diretora da Adepol estão relacionadas às diretrizes para a redução de crimes, que incluem a busca por resultados concretos e a promoção de uma cultura de paz baseada em valores. Segundo sua análise da legislação penal em vigor no país, raramente a vítima é protegida e faltam instrumentos de repressão a quem cometeu o delito.  “A legislação brasileira tende a absorver a ideia de que punir um criminoso é uma violação dos direitos humanos. Quando temos um sistema de Justiça com muito mais direitos para os criminosos, com a ausência de proteção ao cidadão de bem e às vítimas, sem uma resposta adequada do Estado àquele crime, não estamos falando de um sistema de Justiça, mas de um sistema esquizofrênico, injusto e desequilibrado”, reforça Gallinati.

Além disso, a Delegada luta pela valorização dos profissionais de segurança.
A proteção aos Direitos das Mulheres também é uma bandeira que levanta e ela é uma das principais vozes na defesa das mulheres vítimas de violência. “As mulheres precisam ter maior acesso aos serviços de segurança, desenvolvendo a presença feminina, a confiança e a empatia para que as mulheres vítimas de crimes se sintam mais seguras para denunciar.”  A Diretora da Adepol pontua que é necessário a expansão de políticas, programas e estratégias que promovam a igualdade entre homens e

mulheres nas normas, atitudes e comportamentos sociais. Além de uma análise profunda das causas de violência doméstica e contra a mulher. Para ela, essa causa é crucial, pois busca garantir igualdade, dignidade e oportunidades para as mulheres, promovendo a equidade no acesso a recursos e lutando contra discriminações sistêmicas. Também, o planejamento e execução de ações de combate às causas da violência, com o envolvimento de homens, meninos, lideranças e outros membros da comunidade para desafiar e transformar as normas. Sem esquecer, claro, do aumento de financiamento para organizações que promovem proteção às vítimas, especialmente organizações locais lideradas por mulheres. “Ser delegada é apaixonante. É uma doação diária para população, e uma luta constante pelos direitos dos mais vulneráveis. Somos, diariamente, o escudo entre o crime e a sociedade, cumprindo com nossa missão, investigando crimes e protegendo a população.”


*Raquel Gallinati, delegada de polícia. Diretora da Associação dos Delegados de Polícia do Brasil. Mestre em Filosofia. Pós-graduada em Ciências Penais, Direito de Polícia Judiciária e Processo Penal.

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